Sabe-se que a indústria da moda é uma das principais colaboradoras da deterioração dos recursos naturais do planeta. Desde os anos 1990, a produção de roupas cresceu 400%. O mundo hoje consome mais de 80 bilhões de novas peças por ano, sendo que os Estados Unidos e a China representam 38% desse montante. “Quando roupas novas e baratas entram em nossas vidas, também as descartamos em um ritmo chocante. O americano médio agora gera 37 quilos de lixo têxtil a cada ano. Isso soma mais de 11 milhões de toneladas de resíduos têxteis apenas dos Estados Unidos”, conta Livia Firth, consultora de sustentabilidade, em depoimento no filme “O verdadeiro custo (“The true cost”, de 2016).

Porém, já existe um pessoal vindo na contramão, mostrando que é possível ser fashion sem destruir o meio ambiente. Novas matérias primas, técnicas de tingimento e métodos de fabricação mais éticos e sustentáveis têm sido descobertos por cientistas que utilizam a biotecnologia para revolucionar os atuais métodos de produção da moda, eliminando o desperdício e poluentes. Os novos materiais sustentáveis têm propriedades biodegradáveis que não usam a agricultura, a pecuária e o petróleo como fontes básicas da produção têxtil.

Desenvolvida a partir do estudo de organismos geneticamente modificados com finalidade produtiva, a biotecnologia é um conjunto de técnicas que envolvem a manipulação de organismos vivos para modificação de produtos. O laboratório Bolt Threads, por exemplo, é uma grife da biotecnologia e é também pioneira em aproveitar as proteínas encontradas na natureza para criar fibras e tecidos, começando com a seda da aranha. Ele reproduz as propriedades notáveis da teia, incluindo alta resistência à tração, elasticidade, durabilidade e maciez.

Outro exemplo é o biotecido, material têxtil feito a partir de qualquer composto de natureza orgânica. Focado na sustentabilidade, ele explora novas propriedades que conferem resistência, maleabilidade e versatilidade, além das inúmeras possibilidades de incorporar outras características como reação à umidade e temperatura. Os biotecidos usualmente são divididos em dois grupos: os oriundos da própria natureza, como caules, folhagem e papel vegetal, e os provenientes de material reciclado como garrafas PET e sobras de tecido, onde têm-se destacado as fibras de plástico como componentes de roupas e acessórios.

Já a designer de moda Suzanne Lee, uniu a microbiologia com a biotecnologia. Diretora de criação da Modern Meadow, ela desenvolveu um tecido feito a partir de chá verde, açúcar e uma mistura simbiótica de bactérias e leveduras popularmente conhecida como “Kombucha”. Esses ingredientes juntos levam a um processo fermentativo, de temperatura e umidade controladas, que dura algumas semanas. Ao final forma-se uma camada celulósica e fibrosa na superfície do recipiente utilizado para a produção. A princípio, essa camada é bastante densa devido à alta quantidade de água, sendo seca ao sol até se tornar fina, assemelhando-se a um couro vegetal. Totalmente moldável, o material pode assumir diversas formas e ser tingido. O couro, chamado de Zoa, é de alta qualidade, resistente, gostoso e macio.

— Retiramos o colágeno, que é a mesma proteína que temos na pele animal, e o multiplicamos em laboratório. Tecnicamente, fazemos engenharia genética, crescemos o colágeno e o tingimos. No couro tradicional, temos que respeitar o tamanho do animal, então as sobras são lixo material. Já o Zoa não tem lixo porque ele nasce em forma líquida — explica Suzanne, que vê o mundo atual como uma barbárie.

A primeira peça feita com o Zoa, uma camiseta branca com detalhes em couro, saiu direto do laboratório para o acervo do MoMa, o Museu de Arte Moderna de Nova York.

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