Edifícios Energia Zero são aqueles capazes de atender às demandas energéticas e conforto do usuário sem depender do fornecimento externo de energia elétrica, ou compensando seu consumo através de geração localizada de energia renovável. De uma forma ou de outra são autossuficientes energeticamente. Configuram-se como edificações de qualquer escala e tipologia, desde residências unifamiliares até grandes edifícios corporativos.

Um edifício como esse deve ser projetado para inicialmente reduzir ao máximo o consumo. Esse processo se inicia sem a inserção de elementos tecnológicos, mas apenas com boa arquitetura adaptada ao clima. Sem isso não se faz um edifício energia zero. A redução no consumo inicia-se através de um projeto arquitetônico que adote técnicas bioclimáticas eficazes como ventilação natural, fachadas de alto desempenho térmico e altos níveis de iluminação natural. Sistemas ativos eficientes de condicionamento e iluminação artificial devem ser explorados em segunda instância.

Apenas em terceira instância no processo de projeto, sistemas de geração de energia renovável autônomos ou integrados à rede devem se encarregar do restante da demanda energética do edifício. A aplicação de energias renováveis sem a atuação precisa na redução do consumo através da boa arquitetura será pouco ou nada eficaz na produção de edifícios energia zero.

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Para que se viabilize a concepção de um edifício energia zero as equipes de engenheiros e especialistas devem assumir participação ativa e principalmente de natureza consultiva (não apenas executiva). Os mesmos devem ser envolvidos sempre no início do projeto conceitual junto aos arquitetos, podendo (e devendo) analisar criticamente e questionar decisões de projeto sempre que necessário para o atendimento das metas energéticas. Da mesma forma, o arquiteto deve ceder quando necessário, dividindo decisões chave com especialistas multidisciplinares.

As equipes de projeto devem sempre incluir especialistas nas diversas áreas do conforto ambiental e energia que atuam também desde o início da concepção arquitetônica.

O processo deve admitir a produção de testes e simulações computacionais que estudem diversas opções de projeto, validando em última instância a mais adequada ao atendimento das metas de desempenho. Idéias pré-concebidas antes do início do processo de projeto devem sempre ser testadas, pois o que funcionou em um projeto específico no passado pode não funcionar em outros.

Existem modelos de edifícios como esse em operação no mundo. Um dos mais emblemáticos e pioneiro é o complexo residencial BedZed com 82 casas no Reino Unido, construído entre 2000 e 2002. Já naquela época deu-se fundamental importância à concepção arquitetônica na correta orientação solar, sistemas de ventilação natural, adequado isolamento térmico, entre outros. O BedZed foi projetado pelo escritório britânico de arquitetura Zed Factory com assessoria bioclimática e energética do Eng. Chris Twinn, meu ex-colega de Arup e referência mundial no assunto, e com quem tive a honra e o prazer de trabalhar durante alguns anos em Sydney, absorvendo e trazendo para minha prática de consultoria atual pela Ca2 muitas de suas idéias e métodos de análise em design bioclimático.

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O projeto foi um dos pioneiros no mundo, e muitas lições foram aprendidas para aplicação em larga escala desde então. Outras aplicações desse conceito surgiram após essa iniciativa e o movimento para edifícios energia zero ganhou exemplares como o interessantíssimo Edifício de escritórios Pixel em Melbourne na Austrália.

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Creche Municipal Hassis

Vejo no Brasil hoje um movimento acadêmico para a pesquisa de edifícios energia zero e um tímido movimento no mercado, porém ainda embrionário em aplicação prática. Segundo o GBC Brasil existem exemplares de edifícios energia zero em desenvolvimento e operação no Brasil, sendo um dos mais notáveis a Creche Municipal Hassis em Florianópolis, em operação há aproximadamente 20 meses. No momento de sua inauguração estimou-se que a economia global em recursos financeiros seria de cerca de R$ 30.000,00 anuais em função das estratégias de economia e geração de energia renovável através de placas fotovoltaicas. Em se tratando de um projeto público, ao realizar uma operação mais eficiente, conforme previsto em projeto, definitivamente se demonstra que é possível e viável técnica e economicamente dentro de condicionantes do mercado brasileiro.

Lembrando que tudo começa com a boa arquitetura, é possível, é viável e é real!

 

Texto escrito por Marcelo Nudel, Sócio-Diretor da Ca2 Consultores Ambientais Associados, empresa Membro do GBC Brasil.

* Fonte: Blog GBC Brasil

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