O segmento da construção civil está entre os maiores poluidores do meio ambiente, mas há alternativas ecológicas no mercado

A crescente demanda por sustentabilidade atinge inúmeros setores da indústria em escala global. Em 2015, a consultoria PwC desenvolveu uma pesquisa para identificar os países que possuíam maior número de consumidores preocupados em adquirir produtos e serviços de empresas que atuassem em conformidade com o desenvolvimento sustentável, e o Brasil foi apontado em primeiro lugar. Os dados revelam que 95% dos executivos, empresários e público consumidor estão atentos e preocupados com a preservação do meio ambiente por aqui.

Para a diretora executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), Patricia Cotti, o perfil do consumidor mudou muito nos últimos anos e ele está cada vez mais exigente com aquilo que consome. “Além de oferecer qualidade, as marcas agora devem respeitar e até beneficiar o meio ambiente. A preservação ecológica tem ganho destaque e é natural que os consumidores criem esse comprometimento”, comenta a diretora.

Nessa fatia ecologicamente consciente de mercado, a arquitetura sustentável aparece ainda tímida. “O segmento da construção civil está entre os maiores poluidores do meio ambiente, principalmente em função dos resíduos sólidos e detritos resultantes desse processo”, explica Jonas Lieskow, diretor da Kröten Ecotintas. Para reverter a situação, o arquiteto Vitor Penha, do Estúdio Penha, acredita que o agente da transformação precisa ser o profissional da área, apresentando alternativas ecológicas aos moradores. Pensando nisso, fizemos uma seleção de materiais sustentáveis para sua obra.

1. Pintura com cal

A técnica milenar surgiu na Grécia e chegou ao Brasil com os portugueses, que revestiram as construções de pau a pique com o material para protegê-las das intempéries, segundo Sergio Lessa, professor de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes. O processo é livre de COVs (compostos orgânicos voláteis), substâncias tóxicas presentes nos produtos industrializados.

2. Tintas ecológicas

Além da pintura caiada, há as versões ecológicas de tintas produzidas a partir de produtos naturais que não emitem compostos tóxicos. Na formulação, entram 80% de matérias-primas renováveis. Para substituir os minerais não renováveis, uma sugestão é o PET reciclado em grãos. Os acabamentos sustentáveis têm processo físico, sem uso de meio químico, e baixo consumo de energia. Não há emissões tóxicas, e os resíduos retornam à terra ao completar seu ciclo de vida. Além disso, a produção é programada para que haja a menor utilização de água.

3. Terrazzo sustentável

Na linha do upcycling, o designer londrino Robin Grasby utiliza sobras de mármore para criar uma espécie de terrazzo que ele descreve como “bem caótico”, mas que, sem dúvida, tem seu charme. Batizado de Altrock, o material pode ser usado para bancadas, revestimentos, mesas e ladrilhos, e o melhor – cada peça é única. Feito com 87% de materiais reciclados, ele leva farinha de mármore (basicamente, o pó que resulta do corte do mármore), lascas, pedaços de sobra e lajes quebradas dessa rocha. Os outros 13% correspondem à resina, para unir tudo. O material resultante é moldado à mão e pode ser pigmentado em cores personalizadas para projetos sob medida. Ele ainda é selado com óleo de cera para resistir às manchas.

4. Ecogranito

Fabricado a partir de resíduos gerados do processo de extração de mármores e granitos misturados a resina acrílica, coalescentes, espessantes, microbicidas não metálicos, pigmentos inertes e água, o ecogranito oferece menor custo e maior leveza – inclusive, de consciência. Ele pode ser aplicado em superfícies planas, irregulares e até mesmo curvas. Possui impermeabilização inteligente e, por isso, pode ser aplicado em áreas externas e internas.

5. Revestimento hexagonal de PU

Figurando no Guia de Design da iF como vencedor na categoria de revestimentos, a coleção SIX reúne formatos hexagonais de 13 x 15 cm em seis opções de cores: branco, preto, ouro, ouro rosé, cinza glacial, cinza elefante, grafite e rupestre. As peças são fabricadas a partir do reaproveitamento de resíduos de poliuretano (PU). O PU é muito utilizado na indústria de refrigeradores e de automóveis como isolante térmico, mas sua reciclagem encontra os mesmos desafios de plásticos similares, como o isopor.

6. Argila e fibras

Para revestir as paredes existe ainda o revestimento ecológico à base de argila e fibras vegetais. Além do estilo interessante para a decoração, a aplicação de uma camada espessa de fibra colabora para a melhora do conforto térmico interno.

7. Tijolo ecológico

O tijolo ecológico é uma alternativa verde aos tijolos de barro padrão e ainda apresenta outras vantagens. Ao contrário dos tradicionais, que são queimados em fornos e geram gases poluentes, os ecotijolos são compactados e moldados em uma prensa hidráulica, dando vida a um material de grande resistência, isolamento acústico e térmico. “Além do processo sustentável de cura, existem opções que ainda incorporam resíduos orgânicos em sua composição, como o bagaço de cana”, conta a arquiteta Elaine Faustino.

8. Madeira de demolição

O revestimento vem da extração da demolição de algumas casas, galpões ou até edíficios, podendo ter sido retirado de vigas e assoalhos. Por vir da restauração e do reaproveitamento, a sustentabilidade é a palavra-chave para definir a madeira de demolição, que tem brilhado cada vez mais em construções e projetos de arquitetos renomados.

9. Bambus

O bambu é uma madeira leve, sustentável e que possui alta resistência à tração, características que o tornam ideal para elementos estruturais ou acabamentos e móveis internos. Além disso, é um recurso considerado renovável pelo seu rápido crescimento, diferente da madeira clássica.

10. Bioplástico

Produzidos a partir de matérias-primas biodegradáveis, os bioplásticos se decompõem na natureza muito mais rápido se comparado ao plástico sintético. O material é capaz de substituir o plástico comum na fabricação de incontáveis produtos, como pisos, rodapés, revestimentos e divisórias para ambientes.

11. Telhado verde

Na capital paulista, calcula-se que haja uma diferença de até 14 °C na temperatura entre um bairro arborizado e outro árido, no mesmo dia e horário. Além disso, o sistema ajuda a prevenir enchentes com a retenção da água de chuva. Mas o morador é o maior beneficiado: o interior da casa fica mais fresco, dispensando o ar-condicionado.

A boa notícia é que o telhado verde se tornou acessível nos últimos anos com o aumento do número de fornecedores e o avanço nas técnicas de instalação. O produto básico é composto de manta geodrenante, substrato de 4 a 10 cm de espessura e algum tipo de planta: gramado ou forrações baixas, até 45 cm; arbustos e herbáceas, até 1,50 m. Fique tranquilo que, antes da colocação sobre a cobertura impermeável, o técnico avalia se a estrutura suporta o peso de tudo. Depois é só cuidar da manutenção, como se faz em qualquer jardim.

12. Ecotelhado branco

O ecotelhado branco é um revestimento térmico produzido a partir de nanoesferas ocas de cerâmica, que são misturadas à resinas e aditivos. A arquiteta Elaine Faustino explica que ele tem a capacidade de refletir a radiação solar, reduzindo a temperatura do ambiente interno.

13. Energia solar

O uso de painéis no telhado permite o aproveitamento da energia do sol para gerar iluminação natural, e o calor pode ser usado para aquecer a água do banho, da piscina e de ambientes. O funcionamento ocorre sob o conceito de energia fotovoltaica, que é a absorção da irradiação solar convertida diretamente em energia elétrica. Ou seja, quanto mais forte for a radiação solar, maior será a quantidade de energia gerada. No entanto, mesmo em dias chuvosos e nublados, a produção continua a funcionar. Segundo a arquiteta Suellen Figueiredo, qualquer casa pode aderir, desde que haja espaço para as placas e o local tenha bastante incidência de luz.

14. Iluminação de LED

Ao passo que as incandescentes, halógenas e fluorescentes funcionam a partir de filamentos e gases, as lâmpadas de LED geram energia por microchip. Consomem muito menos energia, duram de 15 a 25 vezes mais que as incandescentes, geram menos manutenção e não emitem raio ultravioleta e nem infravermelho, fatores que reduzem bastante o impacto ao meio ambiente e a conta no final do mês. Ou seja: investimento a longo prazo.

15. Vidro com proteção solar

Para garantir conforto térmico e eficiência energética, além de contribuir para um design sofisticado, a Cebrace, maior produtora de vidros e espelhos da América do Sul, criou o vidro com proteção solar para residências, da linha Habitat, que é capaz de barrar até 70% do calor e 99,6% dos raios ultravioleta. Isso leva a uma considerável economia de energia elétrica para resfriar um imóvel.

16. Cortina de plástico reciclado

Pensando em contribuir para reduzir o impacto ambiental do volume de lixo que chega aos oceanos, a multinacional Hunter Douglas desenvolveu a coleção de cortinas SeaTex, fabricada a partir de material plástico retirado das águas, praias e regiões costeiras por voluntários. O plástico coletado serve de matéria-prima para a produção das fibras pela startup parceira Bionic, sediada em Nova York, que desenvolve tecnologias de processamento do plástico para a fabricação de fios para os mais variados fins.

17. Ar-condicionado inverter

A tecnologia inverter é considerada um novo padrão de economia, eficiência e sustentabilidade. Com consumo até 60% menor de energia elétrica em relação aos aparelhos tradicionais, o ar condicionado inverter evita picos de tensão porque mantém o compressor em funcionamento constante, sem o liga e desliga que aumenta o consumo de energia, evitando também oscilações de temperatura.

18. Reúso de água

Outro ponto importante no quesito sustentabilidade é ter um sistema de reúso de água da chuva, que poderá ser aproveitada em geral para descargas, limpeza das calçadas, irrigação de plantas e jardins, e até lavagens de carros. Um sistema como esse pode economizar em até 50% o gasto de água. Uma opção é construir uma caixa d’água de reuso enterrada no jardim, de forma a facilitar a rega e a limpeza dos pisos externos. Outra proposta é um sistema de calhas que direcione a água pluvial coletada pelo telhado para um reservatório de armazenamento ligado à torneiras que não necessitem de água potável.

19. Painéis acústicos de madeira

Compostas por madeira, água e magnesita, elementos naturais e ecológicos, as chapas Heradesign podem ser utilizadas no forro, no teto ou como revestimento de paredes. O próprio conceito do produto, que cria uma verdadeira trama irregular, é um dos responsáveis pelo alto poder de absorção sonora, propiciando conforto acústico, além das propriedades de resistência ao fogo e alta resistência mecânica.

20. Manta reciclada

Produzidas de material reciclado, as mantas isolantes da Ecofiber podem ser utilizadas em diversas partes da casa, desde o teto até as paredes. Elas são responsáveis pela diminuição de gastos com energia elétrica e garantem a climatização do espaço artificialmente, sem agredir o meio ambiente. Além da equalização da temperatura, ainda atuam no conforto acústico, reduzindo a intensidade do ruído no espaço interno de casas e apartamentos.

21. Isolamento de PET

A Trisoft dispõe de um portfólio de alta performance, contendo variados produtos para isolamento acústico, como baffles, nuvens, revest frames e forros. Cada metro quadrado de produto representa um total de 35 a 250 garrafas PET recicladas.

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