Conhecidas também como startups verdes ou de tecnologia limpa, as cleantechs buscam inovar por meio da sustentabilidade para aumentar a produtividade e eficiência de processos, enquanto reduzem custos e evitam desperdícios

Dentro do ecossistema das startups, um segmento tem se desenvolvido bastante nos últimos anos e ganhado destaque por sua preocupação com a sustentabilidade: as cleantechs. Conhecidas também como startups verdes ou de tecnologia limpa, são empresas que buscam inovar por meio da sustentabilidade utilizando a tecnologia limpa para aumentar a produtividade e eficiência de processos, enquanto reduzem custos e evitam desperdícios.

Pesquisadores do Mapeamento do Ecossistema de Startups de Cleantech no Brasil apontam que existem numerosas e amplas definições para o que é uma cleantech. Mas para entrar na categoria, a empresa precisa atender três requisitos: fazer mais com menos; ser menos poluente; e possuir modelo de negócio rentável. O levantamento estima que o Brasil possua 136 empresas dentro desse segmento, sendo que 43% estão concentradas em São Paulo.

Ainda de acordo com a pesquisa, as cleantechs podem ser divididas em oito categorias: energia limpa, armazenamento de energia, eficiência, transporte, ar e meio ambiente, indústria limpa, água e agricultura, sendo a maioria focada em energia limpa. Além disso, 33% dessas empresas atuam no mercado sem concorrência e mais de 70% atuam com o modelo B2B (business to business).

Conhecendo as cleantechs e o cenário brasileiro

Percebendo que no exterior as cleantechs já se consolidavam como um mercado maduro e o potencial do Brasil no setor, Renato Paquet decidiu fundar a Polen, que trabalha com a compra e venda de resíduos, transformando-os em matéria-prima sustentável e de baixo custo. “O cenário brasileiro tende a se equiparar cada vez mais com o mercado global, justamente porque os maiores players são globais. Isso também traz parâmetros de compliance que são aplicados no mundo todo e essas empresas já possuem ações para a economia circular. Mas ainda é um mercado bastante novo, ainda não temos um player dominante no setor”, analisa.

Apesar do mercado brasileiro ainda estar se desenvolvendo, Renato tem visto uma demanda crescente por soluções sustentáveis. “Não a toa, vimos o número de cleantechs quadruplicar em dois anos. É um sinal que tanto que os empreendedores estão enxergando que tem muitos problemas a serem resolvidos, quanto as empresas estarem demandando mais esses serviços. Estamos chegando em um entendimento do potencial gigantesco desse setor, mas que ainda é pouco explorado”, aponta.

Para demonstrar a força do segmento, Renato exemplifica que o mercado de matéria-prima movimenta em torno de R$ 120 bilhões por ano. Enquanto isso, o segmento de beleza, que é o terceiro maior do mundo, gira em torno R$ 30 bilhões, apenas um quarto do que o setor de matéria-prima. “As grandes indústrias têm uma demanda e um impacto enorme nessa questão e as próprias empresas já enxergam que elas têm um dever de neutralizar esse impacto. As cleantechs vão ter um papel essencial nisso”.

E esse potencial se deve ao fato das cleantechs oferecem soluções que resolvem a constante necessidade por recursos e o impacto que a extração deles causa no ecossistema, segundo Leandro Pereira, gerente da Time Energy, focada em eficiência energética. “Você pode atuar em várias frentes a partir disso, mas a ideia é que, qualquer resposta que você encontre para esses problemas, você consiga reduzir o impacto socioambiental da ação humana no planeta”, explica.

Além disso, Leandro observa que as cleantechs são um segmento muito focado em desenvolver novas tecnologias. “Aplicamos muito o conceito de internet das coisas e temos um nível muito grande de coleta de dados, que são analisados antes que qualquer decisão sejam tomada, o que nos possibilita criar soluções muito personalizadas, ao contrário das genéricas que antes dominavam o mercado”, esclarece. Ele aponta que as empresas do setor costumam fazer um grande uso de inteligência artificial, big data e algoritmos focados em consumo.

“Temos uma expectativa muito grande para o futuro do setor. E o crescimento vem por dois lados. Um pela constante preocupação com a sustentabilidade, hoje as empresas investem mais nisso. Mas também pela questão de custo porque utilizar melhor os recursos é mais vantajoso financeiramente. E vemos várias commodities ficando mais caras, como o petróleo e a energia. Então, existe uma grande demanda para empresas de tecnologia que auxiliem o mercado a ser mais eficiente com seus recursos”, analisa.

CEO da primeira fazenda urbana da América Latina BeGreen, Giuliano Bittencourt afirma que as cleantechs vieram para ficar. “Não é apenas uma moda. As gerações mais novas têm uma preocupação muito grande com a sustentabilidade, com o tipo de produto que estão consumindo e com as práticas socioambientais da empresa. Isso está cada vez mais presente nas decisões de compra dos consumidores. Para as empresas, essas preocupações não são mais uma opção e sim uma obrigação”, defende.

Ele também afirma que quem não olhar para essas questões, não vai ter espaço no mercado e vai perder investimentos. E o grande diferencial das cleantechs, para Giuliano, é o retorno que o trabalho delas tem para a sociedade. “Não é só a questão financeira, ganhar dinheiro, mas é o financeiro atrelado ao uma externalidade positiva para a comunidade como um todo. Sempre fazemos análises do impacto social do nosso trabalho. É um processo de transição econômica para os produtos sustentáveis”.

As principais dificuldades das cleantechs

Segundo o mapeamento do ecossistema de cleantechs, os maiores desafios encontrados pelos empreendedores são expandir o negócio, acessar serviços financeiros e desenvolver o modelo de negócio e comunicar proposta de valor. Renato também percebe que o último é um desafio, principalmente pela questão da cultura. “É um pouco limitante. Pouca gente olha para resíduos e lixo e enxerga matéria-primeira, enxerga o que aquilo pode virar. Isso tem que ser trabalhado para além da questão de preciso me livrar disso, de achar que é algo inútil. Essa visão tem que ser despertada nas pessoas e é bastante desafiador”, opina.

A questão regulatória para as cleantechs também deve ser um desafio, de acordo com Giuliano Bittencourt. “No Brasil, fazer coisas novas sempre é um problema em termos de regulamentação. A nossa legislação não está preparada. Na criação da BeGreen enfrentamos já várias dessas questões e eu consigo ver isso em outros setores”, pontua. Ele acrescenta que explicar para o mercado qual é a solução. “Apesar do mercado demandar, é difícil explicar como é o produto”, indica.

Fonte: Época Negócios

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